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Duas Amigas, Um Blog

Duas amigas de longa data e algumas das histórias que têm para contar. No fundo duas raparigas com uma grande capacidade para dizer parvoíces..

Duas Amigas, Um Blog

Duas amigas de longa data e algumas das histórias que têm para contar. No fundo duas raparigas com uma grande capacidade para dizer parvoíces..

crónicas de RAP

A griffe da fruta

A fruta, agora, traz etiquetas. Eu ainda sou do  tempo em que havia apenas dois cuidados a ter com a fruta: lavar ou descascar.  Desrotular é uma preocupação contemporânea.       

A crise europeia não conseguirá derrotar-nos enquanto formos capazes de não  perder de vista o essencial. Não permitamos, amigo leitor, que o aumento dos  impostos, o desemprego e o corte dos subsídios nos impeçam de observar os  grandes fenómenos sociais e culturais como este: a fruta, agora, traz etiquetas.  Eu ainda sou do tempo em que havia apenas dois cuidados a ter com a fruta: lavar  ou descascar. Desrotular é uma preocupação contemporânea. "Lavaste essa maçã,  Carlinhos?", perguntavam as mães do século XX. "Lavaste e desetiquetaste essa  maçã, Carlinhos?", perguntam as mães do século XXI. É mais uma preocupação  extra, que as mães de antigamente não tinham. Por outro lado, o fenómeno alargou  o mercado de trabalho, gerando as profissões de designer de etiquetas de fruta,  fabricante de etiquetas de fruta e etiquetador de fruta.

Um analista incompetente terminaria aqui o seu exame ao fenómeno das  etiquetas da fruta. Não é o nosso caso. Há que ir mais além e perceber todas as  implicações sociológicas da etiquetagem hortofrutícola. Em primeiro lugar, a  colocação de rótulos na fruta criou um facto social que estava por identificar  até agora: o snobismo da fruta. Criança que, no recreio da escola, merende uma  maçã desprovida de rótulo, passa a ser ostracizada pelos colegas que só consomem  fruta de marca. Mesmo no âmbito das frutas de marca, haverá uma hierarquia que  distingue as frutas de marcas mais prestigiadas, consumidas pelas crianças mais  populares, das frutas de marcas menos boas, consumidas pelas outras.

Em segundo lugar, a rotulagem das frutas atrai um grupo social incómodo: os  coleccionadores. Onde houver etiquetas, há coleccionismo. Se o leitor julga que  estou a inventar, tem bom remédio: uma fácil e rápida pesquisa na internet  revelar-lhe-á vários fóruns de coleccionadores de rótulos de fruta, com  indicações úteis acerca do melhor modo de recolher, catalogar e trocar  etiquetas, incluindo dicas práticas sobre o furto de etiquetas na zona dos  frescos dos supermercados. Há numismatas sem dinheiro para investir em moedas  que aplicam os seus conhecimentos em colecções de rótulos de fruta e  filatelistas falidos que trocam os selos pelas etiquetas em álbuns que podem ser  menos valiosos mas são tratados com o mesmo esmero choninhas.

Em 2011, o sistema financeiro está à beira do colapso e a realidade que  conhecemos pode mudar drasticamente. Mas há quem ponha etiquetas na fruta, e  quem recolha as etiquetas para as coleccionar. Só não se percebe se isso é um  indício de que temos salvação ou mais um sinal de que o mundo está mesmo para  acabar.

Ler mais: http://aeiou.visao.pt/ricardo-araujo-pereira=s23462#ixzz1gcWTr0eo

 

 

Após uma pesquisa no google constatei que o Ricardo não exagerou nesta crónica. De facto estas colecções existem e há mesmo forúns onde se debatem técnicas de furto de etiquetas de fruta no supermercado...

Obrigada RAP, graças a ti descobri o maravilhoso mundo dos blogs e fóruns de coleccionismo...

 

Nocas

 

Bem visto....

Deixo-vos com mais uma brilhante crónica de Ricardo Araújo Pereira;

 

Os Décimos Terceiros Meses que Paguem a Crise

 

"Há um limite para os sacrifícios que se podem exigir aos portugueses."

Pedro Passos Coelho, 23 de Março de 2011

 

"E eu vou descobrir qual é."

Pedro Passos Coelho, 17 de Outubro de 2011

 

Ufa! Que sorte. Portugal livrou-se de um primeiro-ministro que dava o dito  por não dito, faltava às promessas e impunha sucessivas medidas de austeridade,  cada uma mais dura que a anterior. É bom olhar para trás, recordar esses tempos  longínquos e suspirar de alívio. Para o substituir, os portugueses escolheram um  primeiro-ministro que dá o dito por não dito, falta às promessas e impõe  sucessivas medidas de austeridade, cada uma mais dura que a anterior. Trata-se  de um conceito de governação tão diferente que, por vezes, parece que estamos a  viver num país novo.

Quem vive em democracia tem de estar preparado para estas mudanças radicais.  Sócrates usava, normalmente, gravatas de tom azul, enquanto Passos Coelho  prefere os verdes e os ocres. No entanto, depois de um período de adaptação, os  portugueses habituaram-se rapidamente à principal mudança política das duas  legislaturas. Em abono da verdade, deve dizer-se que o povo português, embora  seja dado a escolhas muito diferentes, de eleição para eleição, tem uma notável  capacidade de se adaptar à nova conjuntura política.

Repare-se, a título de exemplo, no que acontece com o estilo de Vítor Gaspar,  e no modo como os portugueses o aceitaram sem pestanejar - até porque se torna  bem difícil pestanejar quando se ouve o ministro das Finanças. Vítor Gaspar tem,  como é óbvio, aptidões em várias áreas do saber, embora nenhuma delas seja, ao  que parece, a economia ou as finanças. Trata-se de um homem evidentemente  versado em hipnotismo e encantamento de serpentes. Cinco minutos a ouvir Vítor  Gaspar e o contribuinte começa a sentir-se com sono, muito sono. É nessa altura  que percebe que a carteira começa a sair-lhe do bolso, ao som da voz  encantatória do ministro. Seduzida pelo magnetismo animal de Gaspar, a carteira  abandona o nosso bolso e dança até ao Ministério das Finanças, onde deposita os  subsídios de férias e de Natal. Depois, regressa à nossa algibeira, para  reabastecer. Gaspar, o encantador de carteiras, já demonstrou ter capacidade  para fazer este truque todos os anos. Mas o povo, sempre pérfido, prepara-lhe  uma partida cruel: a tendência maldosa do trabalhador português para o  desemprego e o trabalho precário levará a que, em breve, não sobre quase ninguém  a beneficiar de 13º mês. Lá terá o governo de nos levar o décimo segundo

Ler mais: http://aeiou.visao.pt/ricardo-araujo-pereira=s23462#ixzz1d13ZX19T

 

 

 

 

Crónicas de R.A.P.

Fiquem com mais uma crónica brilhante do Ricardo araújo Pereira!

Nocas

"Ponto de Situação"

Passos Coelho bem avisou que iria fazer cortes na  despesa. Só não disse que era na nossa. A nossa despesa com alimentação,  habitação e transportes está cada vez menor       

Os portugueses vivem hoje num país nórdico: pagam impostos como no Norte da  Europa; têm um nível de vida como no Norte de África. Como são um povo ao qual é  difícil agradar, ainda se queixam. Sem razão, evidentemente.

A campanha eleitoral foi dominada por uma metáfora, digamos, dietética: o  Estado era obeso e precisava de emagrecer. Chegava a ser difícil distinguir o  tempo de antena do PSD de um anúncio da Herbalife. "Perca peso orçamental agora!  Pergunte-me como!" O problema é que, ao que parece, um Estado gordo é caro, mas  um Estado magro é caríssimo. Aqueles que acusavam o PSD de querer matar o Estado  à fome enganaram-se. O PSD quer engordá-lo antes de o matar, como se faz com o  porco. Ninguém compra um bácoro escanzelado, e quem se prepara para comprar o  Estado também gosta mais de febra do que de osso.

Embora o nutricionismo financeiro seja difícil de compreender, parece-me que  deixámos de ter um Estado obeso e passámos a ter um Estado bulímico.  Pessoalmente, preferia o gordo. Comia bastante mas era bonacheirão e deixava-me  o décimo terceiro mês (o atual décimo segundo mês e meio, ou os décimos  terceiros quinze dias) em paz.

Enfim, será o preço a pagar por viver num país com 10 milhões de milionários.  Talvez o leitor ainda não tenha reparado, mas este é um país de gente rica: cada  português tem um banco e uma ilha. É certo que é o mesmo banco e a mesma ilha,  mas são nossos. Todos os contribuintes são proprietários do BPN e da Madeira.  Tal como sucede com todos os banqueiros proprietários de ilhas, fizemos uma  escolha: estes são luxos caros e difíceis de sustentar. Todos os meses,  trabalhamos para sustentar o banco e a ilha, e depois gastamos o dinheiro que  sobra em coisas supérfluas, como a comida, a renda e a eletricidade.

Felizmente, o governo ajuda-nos a gerir o salário com inteligência. Pedro  Passos Coelho bem avisou que iria fazer cortes na despesa. Só não disse que era  na nossa, mas era previsível. A nossa despesa com alimentação, habitação e  transportes está cada vez menor. Afinal, o orçamento gordo era o nosso. Agora  está muito mais magro, elegante e saudável. Mais sobra para o banco e para a  ilha.

 

Ler mais: http://aeiou.visao.pt/ricardo-araujo-pereira=s23462#ixzz1YOPCYbIw