Se pensar na minha vida tenho quase tudo para ser feliz;
Nasci numa família pobre de trabalhadores. Pessoas simples e honestas mas que sempre me encheram de amor e nunca me deixaram faltar nada. Tenho muito orgulho na minha família e adoro-os tanto como eles me adoram a mim.
Não são muitos mas tenho a sorte de ter amigos verdadeiros, pessoas que considero família e que sei que vão ser uma constante ao longa da vida.
Não sou uma mulher linda mas também não sou demasiado feia nem tenho nehum defeito fisico assinalável.
Tive um percurso escolar calmo e tirei o curso dos meus sonhos.
Já estive muito doente mas nessas alturas houve sempre uma "mão divina" que me ajudou e me salvou do pior.
Nunca tive grande azar com os homens. Tive na vida 3 namorados, os 3 excelentes pessoas. Dos dois primeiros não gostei o suficiente para seguir em frente. O outro, o actual acho sinceramente que é a minha alma gémea. Apaixonei-me por ele ao mesmo tempo que ele se apaixonou por mim e sei que ele gosta de mim tal como sou e que quer ficar comigo.
Já vi as minha bandas favoritas ao vivo. Já vi jogos dos meu Benfica no estádio . Já fui ao Avante! E até troquei algumas palavras com meu escritor favorito de todos os tempos; José Saramago.
Tenho 25 anos e tenho livros, tenho sapatos giros, tenho dois telemóveis, um bom portátil e até um carro novo. Tudo coisas que consegui com ajuda dos meus pais mas sobretudo com o suor do meu corpo porque coisa que nunca me faltou foi vontade de trabalhar.
Bolas tenho tanta sorte, já consegui tanta coisa...quase que sou feliz, quase!
A única coisa que me falta para ser feliz ( não só a mim mas também á nossa Necas e a tantos outros milhares de jovens) é a porcaria de um trabalho! É pedir muito? Eu sei que só estou sem trabalho há pouco mais de um mês mas ainda assim já estou a dar em maluca e a verdade é que mesmo quando tenho trabalho é tudo precário, a recibos verdes e sem futuro...
Neste momento ter um trabalho estável é o meu maior sonho. Queria tanto ter uma casa minha e poder ficar com o homem dos meus sonhos...ter a minha própria família e o meu espaço. Não sonho com palácios nem grandes luxos, sonho apenas com um cantinho.
Parece um sonho tão simples mas tão impossível de alcançar...
Eu fico de lágrimas nos olhos cada vez que vejo um destes na rua...tenho saudades do meu velho companheiro...O Deus dos carros o tenha em paz.
Esta semana em vez da música deixo aqui um vídeo de uma antiga publicidade que acho muito engraçada...E uma forma de homenagear um carro que nunca vou esquecer.
Preciso tanto de um daqueles momentos em que nos limitamos a ficar abraçados em silêncio. Um daqueles momentos em que as únicas coisas que existem és tu e o calor do teu corpo...
Passei a tarde na piscina, na companhia de pessoas que adoro e que toda a minha vida estiveram presentes. Foi giro, foi divertido mas quando entrei no carro para me vir embora senti um enorme peso no peito, um sentimento de tristeza ou talvez antes de vazio.
Cheguei a casa e resolvi caminhar um pouco, caminhar acalma-me, clarifica os meus pensamentos. Andei um pouco, sem rumo, sem pensar sequer para onde ia. Quando dei por mim estava num sítio familiar, um lugar que desde pequena me fascina, e onde o pôr do Sol é maravilhoso.
Lembrei-me de quando brincava por ali com os meus primos, há já muitos anos (talvez séculos...) num tempo em que tudo era fácil e mágico. Lembrei-me de quando era uma adolescente e ia ali sentar-me sozinha, ver o pôr do Sol e sonhar com o futuro.
No fundo sempre senti uma ligação muito forte com aquele local específico, talvez mais do que com qualquer outro, não sei explicar porquê, talvez por ali ter brincado tanto e ter sido tão feliz. É quase como se aquele sítio fosse meu, ou eu dele. Foi sempre o meu refúgio quando precisava de pensar, quando me sentia triste ou quando queria, simplesmente, estar sozinha.
Hoje por acaso, ou talvez não, cheguei a horas do pôr do Sol, sentei-me mais uma vez a olhar o horizonte e deixei aquela paz familiar entrar em mim.
Apercebi-me que já nem sequer me lembrava de há quanto tempo não ia ali, talvez há já alguns anos....estranho...afinal gosto tanto de ali estar e é tão perto de casa. Olhei as minhas mãos e apercebi-me que por muito que me custe já não eram as mãos da menina feliz que corria naquele lugar, já não eram sequer as mãos da adolescente que se sentava naquela mesma terra e sonhava com o futuro.
As mãos para as quais olhava eram as mãos de uma mulher, uma mulher jovem mas ainda assim uma mulher feita. O futuro chegou e eu nem dei por ele. Agora sou demasiado adulta para acreditar em magia, demasiado sensata para acreditar que tudo é possível mas demasiado jovem para desistir de ser feliz para sempre. Sinto-me perdida! Será que já é demasiado tarde para realizar os sonhos que ainda me faltam? Será que é possível? Não sei, e é essa incerteza que me magoa.
Ao sentimento de paz sucedeu uma angústia. A tristeza e a solidão voltaram a tomar conta de mim. Foi nessa altura que baixei a cabeça e chorei. Era assim que estava quando algo macio acariciou a minha mão. Era o meu gato. Não dei por ele me ter seguido e nem tão pouco é um gato meloso e dado a gestos muito carinhosos. Mas ali estava ele, com a cabeça encostada a mim como que para me reconfortar, como se tivesse percebido que eu estava triste e quisesse mostrar-me que não estava sozinha. E sim! Senti-me melhor, ás vezes o conforto vem de onde menos se espera...
Eis parte da canção "Entre mis Recuerdos" de Luz Casal, que fala da infancia e em como tudo parecia lindo e lento. Ainda me lembro que o básico (3 anos), por exemplo, durou para mim, uma eternidade. Parece que levou mais tempo a passar que o resto da minha vida.
E hoje...
Hoje finalmente admiti para mim mesma que o meu recente estado de mini depressão não é mais que a aceitação de um certo facto acerca da minha vida até aqui. Porque tenho andado a convencer-me de uma coisa, apesar de sempre ter em conta outra e...custa. Custa admitir que o meu problema não é ter terminado uma fase, não é a adrenalina a sair como a Fernanda me disse, não é o pensar que não tenho trabalho, embora isso pese. É outra coisa.
É pensar..não, é saber que, por muito que me tenha querido convencer, por muito que me queira obrigar a ver as coisas de outro prisma, a verdade é que eu jamais conseguirei alcançar um ou dois aspectos que tornariam a minha mísera existência mais facilitada.
Não me devolveriam a infancia, onde a maior preocupação era arrumar tudo para poder ver os desenhos animados a horas. Mas ajudar-me-iam a ir para a frente.
E custa saber isso e ter a noção que querer e saber como mudar isso não chega para me pôr lá.
Hoje devia sentir-me exultante, relaxada, satisfeita. Sem contar com a defesa, estou livre.
Mas isso não me deixa sentir bem. Parte de mim tem agora ainda mais medo e lamenta cada vez mais não se poder voltar atrás para tomar decisões diferentes ou para viver anos melhores em que nada nos preocupava com esta intensidade.
Como estas alturas atrofiam a cabeça de uma pessoa; quando estamos convencidos que tudo é normal, afinal não e somos tão vulgares na nossa pequena existência...
Hoje tenho passado o dia a fazer coisas que gosto...a ler e a ouvir música e a navegar na net. Sem ninguém em casa para me chatear.
Devia sentir-me bem, mas não. Hoje parece que não...pode ser que amanhã já dê...