Inveja

Hoje vi uma amiga  que trabalha no estrangeiro e que teve sorte (e mérito, verdade seja dita) de conseguir um bom trabalho assim que terminou os estudos. Não invejo o que faz, mas confesso que sinto uma tremenda inveja da forma como singrou e como agora tem uma vida mais desafogada e com sucesso.

Ela vem poucas vezes a casa e a situação de saúde do pai não é boa, há já vários anos. Sei que as coisas que conseguiu foram merecidas e que se empenhou a fundo para isso. Pode ter tido um pouco de sorte no momento certo, mas esforçou-se para estar onde está.

Se ela fosse má pessoa, se calhar eu conseguia odiá-la ou odiar o que representa, melhor dizendo. Mas ela é boa pessoa, nem sempre a mais afável ou mais acessível, mas conheço-a desde o jardim de infância e sei que tem uma boa alma. Não éramos amigas do coração mas quando falávamos era de coisas com importância e não querendo ser vaidosa, apoiei-a numa situação que, não sendo complicado ou intensa, na altura deu para perceber como ela é boa pessoa.

Sinto-me um bocado mal por a invejar e na verdade já não posso dizer que somos amigas. Nunca mais falámos, já éramos meio distantes mas eu nunca dei o passo para termos uma relação de maior confiança. Sinto-me um bocado mal com isso quando me lembro de algumas parvoíces que fizémos e boas memórias que ainda tenho. Mas mudámos e sinto-me mesmo mal por ter tanta inveja do controlo que ela tem na vida dela. Por ter sido empenhada e ter ido atrás do que queria. Por ter aproveitado a oportunidade que os pais lhe deram. Por ter sido corajosa. Por ter feito uma escolha e a ter defendido.

Sei que a vida dela não é perfeita, há coisas que ela não pode mudar. Mas que inveja de ela ter feito da vida dela algo que eu sempre sonhei que faria com a minha e não tive coragem nem ambição para tal.

Necas