Sobre a privacidade em lugares públicos e quem lá encontramos
Todos nós já tivemos que estar em salas de espera por alguma razão, já todos tivemos de estar várias horas (se calhar tudo combinado já dá dias inteiros) a esperar por alguma coisa.
Um dos sitios priveligiados por natureza para uma boa espera é o médico, particularmente urgências e aquelas consultas marcadas para as 14h mas o médico só chega às 18h e então nós só somos atendidos às 22h se tanto.
Enfim, há precisamente uma semana tive de ir com o meu irmão às urgências, porque apesar de ele já se ter lesionado no joelho 2 vezes achou por bem dar cabo dele uma terceira vez. Eu e o meu pai lá fomos com ele, chegámos às 19h e pouco mas mandaram-nos para a capaital de distrito porque nas urgências do nosso municipio não há raios-x nem nada para fazer exames mais completos. Aí chegámos um pouco antes das 20h e enquanto ele esteve na triagem e foi atendido e saiu, passaram-se 2 horas. Nada mau, sempre pensei que fossemos de lá sair bem mais tarde.
Mas o post não é para falar dos atrasos nos serviços, é sim para falar de todo um ecossistema que se forma nos momentos que se passam numa sala de espera.
É que poderia fazer uma tese com isto, o tipo de pessoas, os tiques que têm, os comportamentos, as atitudes para com quem os acompanha e para os funcionários, a quantidade de vezes que vão "lá fora um bocadinho", o que lá vão fazer, a maneira como ali chegam, etc., é deveras interessante.
No dia que lá fomos havia duas senhoras perto da cadeira onde eu me sentei e estavam constantemente a falar de quem viam entrar nas urgências. Muito promissor em termos de tese.
Apareceu também uma ricalhaça (certamente o "você" implícito na sua voz só poderia ser por causa disso) que foi buscar a mãe que tinha ficado com a empregada brasileira (que na sala de espera cavaqueou imenso com outra senhora) e à saída decidiu parar a cadeira em que a mãe estava sentada e dizer-lhe em voz alta (quem estava ao fundo pdoeria não ouvir) "Mãe. vamos telefonar ao ...(qualquer coisa, esqueci-me)?" ao que a senhora respondeu "ele tá cá?" e a filha: "não, vamos é telefonar", ao que a mãe "mas ele tá ali fora?" e assim sucessivamente até sairem. Pobre senhora...senti-me algo mal com aquilo, a senhora claramente não estava bem e a filha a expô-la assim para toda a gente...
Também lá estava uma rapariga com uns super mini calções que estava sempre a perguntar coisas à recepcionista...que por acaso até virava os olhos para o colega sempre que ela se ias entar de novo.
Observando bem, apanhamos todo o tipo de coisas, é um bom exercicio quando se espera. Mas os limites para a privacidade existem, se temos de partilhar um espaço assim com alguém, ao menos sejamos discretos e reservados...admitamos, as urgências não são o melhor sitio para armar espalhafato.
A cereja no topo do bolo, o interessante epilogo da minha noite lá, foi quando apareceu a familia de ciganos. Por muito que se queira, eles não são propriamente quietos. Eu não sabia ainda que o meu irmã estava prestes a sair por isso só pude "assistir" durante pouco tempo à sinfonia de sons que eles ali deram, sim, porque calados não faz parte do seu vocabulário. Chegaram qual furacão, a mãe, uma filha com um miudo ao colo, outra miudinha pequena, um adolescente e outro puto pequeno. O pai chegou depois (estancionar o carro e tal). Vinham assim um bocadinho sujos e amarrotados mas tinham uma boa explicação, é que eles vinham de Madrid. Sim, falando ao telemovel o adolescente elevou a voz de tal maneira que ficámos todos a saber isso. Ah e pagaram 10 euros na portagem também. Suponho que a cigana mãe é que estava doente, foi para a triagem e logo toda a comitiva foi atrás. Nós na sala de espera ouviamos tudo, claro. Depois o adolescente lá saiu com o puto, mas como o pai chegou nessa altura foram de novo para lá. Nessa altura chamaram o meu pai para ir buscar o meu irmão e então já não vi mais nada.
Bem, é claro que esta conversa não interessa nada, é só para focar a parte da privacidade. Num sitio público é dificil e na maioria das vezes até estamos calmos e quietos e respeitamos a conduta silenciosa de não sermos exuberantes perto de desconhecidos, mas quando isso não acontece...lol, acho que ainda assim, é preciso ter algum limite. Gritar alto e a bom som que pagámos 10 euros na portagem é algo que, deduzo, não é algo que outra pessoa precise mesmo de saber...
Necas