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Duas Amigas, Um Blog

Duas amigas de longa data e algumas das histórias que têm para contar. No fundo duas raparigas com uma grande capacidade para dizer parvoíces..

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Duas amigas de longa data e algumas das histórias que têm para contar. No fundo duas raparigas com uma grande capacidade para dizer parvoíces..

Crónica de Ricardo A. Pereira na Visão

Sou fã das crónicas do R.A.P. na revista Visão! A desta semana está especialmente engraçada, portanto, não resisti a colocá-la aqui no nosso "pasquim". Espero que gostem tanto quanto eu e que por um bocadinho esqueçam a eminência da banca rota na Grécia.

Nocas

Ceci n'est pas un riche

 

O recente debate sobre política fiscal é tão interessante quanto intrincado.  Pergunta-se: quem tem mais deve contribuir mais? Eis um daqueles dilemas de  solução impossível. Tirando o sentido de justiça e o mais elementar bom senso,  não há nada que nos ajude a tomar uma posição definitiva. Devem os ricos pagar  mais impostos do que os outros? É uma questão complexa. Arrebanhar metade do  13.º mês acima do salário mínimo é incontroverso, mas quando se trata de taxar  grandes fortunas os analistas tornam-se filosóficos: mas o que é um rico?,  perguntam. Parece tratar-se de um conceito vago e populista, comentam, com  admirável prudência intelectual. Fazia falta um destes analistas no versículo 24  do capítulo 19 do Evangelho segundo São Mateus. Quando Jesus dissesse que é mais  fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino  de Deus, o analista havia de contrapor: "Mas, Senhor, o que raio é um rico?  Abstende-vos de usar conceitos vagos e populistas." No entanto, Jesus Cristo,  talvez por ser filho de quem é, pode dizer o que lhe apetece sem ser acusado de  demagogia. Uma sorte que Jerónimo de Sousa não tem. 

Na verdade, os analistas têm razão. A riqueza é um conceito vago. Tão vago  que o homem mais rico de Portugal conseguiu dizer esta semana que não era rico.  Ora, se o homem mais rico de Portugal não é rico, isso significa que em Portugal  não há ricos, o que inviabiliza a criação de um imposto especial para eles. É  impossível taxar quem não existe, como a direção-geral de impostos bem sabe - até porque já tentou.

Toda a gente conhece aquele poema do António Gedeão sobre Filipe II: o rei  era riquíssimo (passe a imprecisão e o populismo) e tinha tudo. Ouro, prata,  pedras preciosas. O que ele não tinha, diz o último verso, era um fecho éclair.  Américo Amorim tem tudo, incluindo um fecho éclair. Talvez não tenha vergonha,  mas também vem a calhar: nem criando um imposto sobre a vergonha o apanham.

Américo Amorim constitui, por isso, um mistério tanto para a fiscalidade como  para a teologia. Sendo o homem mais rico de Portugal, talvez não entre no reino  de Deus. No entanto, na qualidade de pobre de espírito, tem entrada  garantida.

 

Ricardo A. Pereira

 

Ler mais: http://aeiou.visao.pt/ceci-nest-pas-un-riche=f621069#ixzz1XpRfReCh