8 e 80

Há dias em que uma pessoa acorda e tudo está mal, o dia, os objectivos, as vontades. Nesses dias não apetece fazer nada e nem se acredita que o que se faz é útil. Há dias em que nos sentimos mal, idiotas, dispensáveis, a mais, hipócritas, autênticos parasitas. Sentimos que nada do que fazemos está bem, nada do que queremos é necessário e não há mesmo auto-estima que sobreviva. Nestes dias apetece desaparecer, sair daqui, às vezes até morrer. Olhamos para nós e pensamos que desperdicio de tempo e existência porque nada, mas mesmo nada parece estar a correr bem. O dia é sempre mau, o copo está sempre meio vazio, os animaizinhos são irritantes e as pessoas a rirem à nossa volta são uns exibicionistas sem sentimentos. Somos uma m****.

Também há dias em que o sol não podia brilhar mais, as flores parecem obras de arte, o mundo faz sentido. Não nos irritamos, não sentimos que estamos a ocupar espaço desnecesário, valemos o nosso peso a ouro, temos amigos que gostam de nós, mal podemos esperar para falar com os colegas, estamos aptos para seguir em frente. Dá vontade de cantar na rua, fazer horas extra no emprego, há esperança para o que aí vem.

Apetece rir, tentamos consolar quem está triste, a esperança enche-nos a alma e somos a alegria em pessoa. Os sapatos combinam com a mala, o pequeno-almoço foi delicioso e o autocarro chegou a horas. Pensamos como será fantástico apaixonarmo-nos ou amar se já estamos com alguém. Somos vida.

Necas