Quando uma das minhas vizinhas cuscas se dá ao trabalho de empreender uma investigação porque eu, um dia, cheguei a casa cedo ( leia-se depois de terminar uma jornada normal de trabalho, a horas decentes )isso diz muito da confusão que são os meus horários, a minha agenda e até a minha vida.
Daqui por um mês, a esta hora, estarei possivelmente, num quarto de hotel, deitada na cama com os pés duridos e quiçá com bolhas feitas de tanto andar. Possivelmente terei a barriga inchada das pizzas, pastas e gelados que terei comido durante o dia....ao meu lado estará a bateria da máquina fotográfica a carregar, um guia aberto e um diário de viagem com uma página recém escrita..... Férias, me aguardem que vou lhes usar.... Nocas
Todos os dias nos queixamos. Do trabalho ou da falta dele, do dinheiro, da saúde, da falta de tempo, do chefe, das pessoas desagradáveis, da máquina topo de gama que não podemos comprar, porque está frio, porque está calor, porque não temos roupa suficientemente bonita para vestir, porque estamos gordos, porque somos demasiado magros......
Muitas vezes damos por nós a pensar que somos uns desgraçados. Eu já o pensei tanta vez de mim própria porque, ao fim ao cabo, eu sou o centro do meu pequeno mundo.
Tudo isto para dizer que vi ontem a foto do menino afogado, a foto de que toda a gente fala.....Eu sei que estás coisas acontecem todos os dias mas uma coisa é ler ou ouvir falar no assunto. Ao ver aquele pequeno corpinho sem vida é impossível continuar a fingir que não se passa nada. Senti.me tão egoísta, tão pequena, tão impotente e tão triste comigo e com a humanidade.