Esta semana é música clássica, precisamos de algo que nos acalme...
Este é o "bolero" de Ravel tocado pela orquestra filarmónica de Berlim, num festival. O maestro é Daniel Barenboim, fantástico, o pulso que tem na sua orquestra..ele que está ali o tempo quase todo só a assistir!
Eu adoro como eles vão aumentando instrumentos a cada compasso e quando estão todos a tocar é delirante!
A minha amiga Nocas deu-me hoje presentes de aniverário que, deixem-me ser sincera, vai dar-me muito jeito porque se tenho um vicio, seu nome é livros, e um cheque-prenda é do melhor. Ainda melhor é a capa para livros que nãos ó é fashion como útil.
Mas o que me deixou mesmo feliz foi um postal/carta que a Nocas me escreveu com aquilo a que ambas chamamos de "lamechisses", mas que na verdade são coisas que não dizemos cara a cara, mas que gostávamos porque já somos amigas há muitos anos e partilhámos muitas parvoíces (daí o blog também, etc...). Ela diz lá que se lembrou da altura em que trocávamos cartas nas férias de verão, tipo nem morávamos longe nem havia assim tanta coisa que quisessemos dizer, mas escreviamos altos testamentos de maluqueira e trivialidades e curioso, voltar a ter essa sensação de escrever uma carta com resmas de folhas aos 14 anos também me passou pela cabeça...que saudades!
No postal a Nocas disse muitas coisas que me deixaram comovida porque há sempre momentos nas nossas vidas que pensamos que estamos sozinhos e que mesmo que a nossa familia sinta a nossa falta ou nos ame, fora eles temos a duvida, não sempre, mas às vezes, que haverá outra pessoa que também goste nós assim...e eu já sabia que a Nocas é uma dessas pessoas..mas ler as palavras dela deixou-me muito feliz e comovida porque é como um bálsamo no coração saber que há alguém no mundo que pensa em mim como uma melhor amiga e não há coisa melhor no universo que saber que há, pelo menos, uma pessoa que não nos julga nem nos destrói e que é nossa amiga sem pretensões.
Por tudo, obrigada Nocas. E adoro-te também, dear BFF :)
Hoje faço 27 anos e sinceramente a perspectiva de que rapidamente me vou ver com 30 assusta-me. Nunca pensei que me fosse custar tanto envelhecer mas nem é pelas rugas ou pela artrite ou mesmo pela ideia de vir a ter uma dentadura..é mesmo a ideia, o conceito em si. É que parece que estou na mesma, que continuo a mesma pessoa que era aos 20. Tenho o mesmo estilo de vida, os mesmos ideais. Não mudei nada de substancial na minha vida e isso parece que me estagna...mas eu faço-o consciente, tenho noção que é de minha livre vontade que não mudo de vida, que não saio de onde estou, que não tenho namorado ou perspectivas de uma vida melhor. Eu não sou ambiciosa. Não tenho vontade de ser uma pessoa diferente...podem chamar-me imbecil ou fraca, ou ninguém, mas eu sou assim e pronto. Claro, dava-me jeito ter mais dinheiro e um emprego melhor pago e mais estimulante, mas não é isso uma utopia hoje em dia? Mesmo que que queira sonhar mais alto, nada se faz sem dinheiro infelizmente e o meu país não tem. Os meus pais também não e o que eu ganho não chega. Que desapontante pensar que há 10 anos atrás o pior que eu imaginava na minha vida era ver-me a estudar sozinha longe de casa! E agora....
Na verdade se continuar a ter esta vida e com remuneração já não estou mal...mas isso não me impede de me sentir mal por envelhecer....
Acho que vou ser daquelas velhas que com 60 anos ainda dizem que têm 40...
Não fui porque vou estar antes na manif de dia 29 de setembro organizada pela CGTP (apesar de não ser sindicalista ou sequer sindicalizada). Não fui, mas vi pela tv milhares e milhares de pessoas a gritar contra o Governo, pessoas que nunca tinha saído à rua para se manifestarem. Já fui a muitas manifestações mas em 27 anos de vida nunca vi nada assim...Parece que o gigante adormecido que é o Povo finalmente começa a acordar...Afinal ainda há esperança para Portugal!
Ontem vi a o programa de estreia da Casa dos Segredos porque a minha mãe acha aquilo o máximo (ok, achou a edição anterior) e como ainda ando na onda de ser simpática e não a deixar muito tempo sozinha, vi com ela. Tenho a dizer que as pessoas não têm mesmo vergonha na cara..as coisas que dizem nas suas apresentações...apareceu de tudo, desde seios de silicone de marca "tóxica", a engatatões convencidos, a beldades vingativas, a namorados traiçoeiros e mamilos duros e pequeninos...até ao concorrente que chamou "Julia" à Teresa Guilherme...realmente as pessoas não podiam ser mais malucas e arrogantes por pensarem que serem rebeldes e atiradiços na tv nacional mostram que são o orgulho de seus pais...
A minha mãe está, neste preciso momento, a ver o canal 10 do Meo. Soa-me que pouco mais emitirá aquela tv nos próximos meses...
Necas
PS para a Nocas: Podes falar do que quiseres, inclusive da aventura do ovo e da ministra, afinal a vida continua...
E eis que uma inocente vinda ao blog para falar do ovo e da ministra acabou comigo a chorar baba e ranho por causa do post da Necas. Creio que o elogio que queria fazer ao corajoso ribatejano atirador de ovos terá que ficar para uma melhor altura.
Foi a primeira morte que me lembre desde que sou "crescida". Nunca tinha ido a um funeral nem nunca tinha visto de perto uma pessoa morta.
O meu avô morreu de madrugada. Vivia connosco há cerca de cinco anos, desde que teve um ataque de coração horrivel e como não se tratava bem, veio para cá.
Momentos antes tinha ido à casa de banho pelo seu pé e tinha-se sentado na cama sozinho. Teve dificuldade em respirar uns segundos e o tempo de o meu pai se virar e ir chamar a minha mãe foi fatal. Eu acordei com a minha mãe a chorar. Os bombeiros e INEM levaram muito tempo a chegar e depois não disseram o que aconteceu , só que o meu avô não tinha "viabilidade". Fiquei um bocado a olhar para a médica e a processar a idea de "viabilidade"... mas acho que, tendo em conta o quão rápido tudo aconteceu, ele teve um enfarte...
Nessa noite já não dormi grande coisa e a minha mãe ainda menos. O meu pai tratou de tudo com a funerária e na sexta-feira, desde as 11h30, passámos o dia e a noite na capela daqui, com ele. Não havia muita familia (são poucos daquele lado), mas apareceram várias pessoas para falarem com a minha mãe e a minha tia. Nunca tinha estado num velório...é uma experiência...surreal, quase. Foi a noite toda, falou-se de muita coisa, mas era mais o tempo de silencio, que outra coisa. Muito, muito silêncio.
O funeral foi sábado às 9h. Até foi tudo bastante rápido...a minha mãe não quis ver a cara do meu avô lá no cemitério, nem quis ver quando baixaram o caixão. Eu fiquei ao pé dela mas devo confessar que o som da primeira pá de terra a bater fez-me vir as lágrimas aos olhos, acho que foi aí que se tormou fisica a noção de que ele ia lá ficar...
Durante o resto do dia, a minha mãe andou assim morosa, lenta...ainda não lhe passou embora eu tente por tudo distraí-la...é que nem sei o que é melhor, ignorar a coisa e deixá-la andar ao ritmo dela ou tentar distraí-la...tanto uma coisa como outra também me custam porque fico sempre na expectativa de ela se pôr a chorar ou ficar zangada...não sei qual das coisas me custa mais a ver.
Eu gostava do meu avô, mas antes de ele vir dormir para cá não o via assim muito. Ele, e é a verdade segundo a minha mãe e a minha tia, não foi um bom marido para a minha avó. Ele não era muito dado a afectos, era um bocado distante. Era assim a maneira de ser dele. Mas como pouco o via, os meus afectos por ele também não eram imensos. Tive pena e foi duro, mas mais pela minha mãe, para ser sincera. No entanto, sinto a falta dele, é inevitável depois de nos habituarmos. Ainda ontem subi as escadas e pensei que tinha de ir devagar porque ele dormia no quarto em baixo e depois acordava...a ideia que isso nunca mais vai acontecer veio logo a seguir, mas por momentos...
A minha mãe ainda não entrou no quarto. Eu limpei-o e arrumei-o ontem mas ela ainda lá não foi desde que ele morreu. Eu compreendo, mas parte de mim anseia para que ela o faça...mas enfim, o tempo de luto de cada um é isso mesmo, pessoal.
Às vezes penso nele e fico com pena...ainda me lembro dele na cama...mas sei que para mim as memórias dele não são tão fortes...
Realmente a morte custa muito a quem fica, muito, muito...